domingo, julho 22, 2007

Em 1996, eu estava indo pela primeira vez a Los Angeles, CA. Peguei um vôo no Rio de Janeiro, fiz escala em São Paulo Guarulhos (como sempre) e de lá partimos com destino ao Estado Dourado da Califórnia. Embarcamos em um MD-11 da extinta Vasp. A bordo cerca de 285 pessoas, ou seja lotação máxima para a famosa aeronave também apelidada de (wide body). Decolamos normalmente.


Com cerca de 40 minutos de vôo o avião ficou “meio de lado” e em segundo estabilizou. No momento o comandante comunicou a todos que deveria retornar a Guarulhos pois tinha um problema de instrumentação na aeronave. Aterrissamos normalmente. Ficamos uma hora dentro da cabine, sem respostas sem água e sem comida, já eram 11 horas da noite. Eu promovi um motim a bordo e abriram a porta e descemos no aeroporto. Como todos estavam em trânsito internacional não podíamos circular livremente pelo aeroporto.

Ora, 285 pessoas espremidas em uma sala e um corredor. Em certo horário, eles comunicaram que o MD-11 tinha um problema na turbina direita e em 20 minutos estaríamos voando outra vez para nosso destino. Passou-se mais de duas horas e nada. A fome veio com tudo em todos. Em um dos corredores tinha uma pequena lanchonete, me lembro bem com exatos dois sanduíches de queijo, e três enroladinhos de presunto. E somente uma funcionária, era madrugada. Uma fila enorme se formou e a funcionária da lanchonete avisou que não poderia atender a todos. Dois policias federais nos observavam o tempo todo. Como se fossemos ilegais ou bandidos. A confusão estava armada. Da Vasp ninguém aparecia ou se pronunciava. Fui para um lugar e vi uma senhora chorando. Já estávamos no chão a mais de 4 horas. Perguntei o que era. Ela me disse que seu cachorro estava no bagageiro, e que o levaria a Los Angeles pois estava de mudança.

E que quatro horas parado e sem noção de horário de partida o animal ainda teria que suportar mais 14 horas de vôo para a cidade. Eu fiz um pequeno escândalo exigi um funcionário. Ele apareceu, com cara de sono e disse que dentro do bagageiro havia um animal, inocente e sem comida nem água, igual a nós passageiros (os copinho de água da lanchonete haviam acabado). O funcionário disse que nada podia fazer. A mulher chorava copiosamente, e outros passageiros começaram aos gritos pedir que o animal fosse alimentado. O funcionário nervoso percebeu que um pequeno caos com mais de duzentas pessoas poderia ocorrer. Depois de um tempo observamos uma escada automática subir com um funcionário da Vasp até o bagageiro, abrir levar algo e depois descer. O cachorro foi alimentado, e ainda bebeu água. Menos mal.

No pequeno e apertado corredor, algumas pessoas estavam já deitadas, em cima de suas malas. Lembro muito bem de um casal de hippies que faziam pulseirinha sentados no chão com maior calma. É hippies seguiam também pra Los Angeles. Algumas mulheres bonitas e com cara de ricas da primeira classe, pois disseram estavam também já deitadas no chão, mas sem mexer no cabelo! Isso foi ótimo! Uma senhora ficava o tempo todo com um cigarro na boca e não acendia (naquela época ainda existia fumante e não fumante na aeronave e no aeroporto), perguntei a ela porque. Ela respondeu que havia parado de fumar e o cigarro na boca era um paliativo! Ok. Tudo bem.

Quando o sol nasceu percebi que eu deveria ligar pra casa e também para Los Angeles onde um amigo me pegaria no aeroporto. Minha família nem tinha noção de que eu ainda estava no Brasil! E meu amigo pensava que eu já estava quase chegando!

Dois funcionários da Vasp apareceram e não deram muitas noticias, durante a noite a turbina estava aberta como se fosse uma casca de laranja e técnicos iam e voltavam, pois víamos através da parede de vidro.

De manhã a turbina estava montada e parecia pronta. Somente uma autorização da Anac (segundo os funcionários) liberariam o avião. E nada. Eram oito horas da manhã. Cheguei a um dos funcionários e disse que eu precisava ligar para a família e amigos. Eles disseram que eu não poderia ir até a sala da empresa, pois eu estava em trânsito internacional e isso faria com que eu saísse da sala e atravessasse o aeroporto. Entrei em desespero e outros passageiros também. A gritaria se formou e a ignorância quase abateu no funcionário. Ele chamou a segurança com mais policias federais com coletes pretos. Me chamou no canto e disse que me levariam ao telefone do escritório.

Finalmente saí da sala escoltado por dois federais, atravessei o aeroporto e fui até a sala da Vasp. Liguei pra casa, minha mãe achou que eu já havia chegado! Mas expliquei todo o ocorrido. Também telefonei para Los Angeles. Retornei a sala de trânsito internacional. O caos estava instalado geral!

As oito e cinqüenta da manhã fomos autorizados a voa para os Estados Unidos. Apenas um funcionário disse que queria ver a autorização que liberou a aeronave. Mas como era um só, ninguém se preocupou e logo foram se dirigindo ao avião.

Entramos, os comissários já estavam lá pedindo mil desculpas e etc.

De repente, os comissários começaram a servir um lanche especial! A famosa promoção número um do MacDonald’s! Sim dentro de um MD-11 todos os passageiros receberam um Big Mac, batata frita e um copo de refrigerante. O melhor era ver através das cortinas da primeira classe os rapazes de entrega do MacDonald’s irem até a porta e esvaziar suas caixas de transporte! Foi simplesmente fan-tás-ti-co!

Seguimos a viagem normalmente, e horas depois veio a refeição normal. Seguimos felizes.

Do ano 2000 até 2006 em passagens pelo aeroporto internacional de Guarulhos eu observei pelos cantos das pistas alguns MD-11 da Vasp deteriorando, outros sem peças ainda em São Paulo.

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